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Sobre Anticristo

E eu fui!

Sexta-feira, tentando fugir do trânsito, cheguei pontualmente ao HSBC às 18h15 para ver o filme do Lars von Trier: Anticristo.

Bom...

Os detalhes que não escapam, mas que merecem menção:
1-) estou cada vez mais enojada das falsos intelectuais da Paulista. Alguns vêm disfarçados, outros escancaram bravamente. Acho que peguei essa ojeriza depois de frequentar a Mostra Internacional bravamente e loucamente durante dois anos: o que vc mais vê são pessoas que usam o "estar no cinema" como forma de status. PFF.
2-) mais enojada ainda dos adolescentes moderninhos que visitam as salas cult do cinema de SP pra fazer a mesma bagunça que os maloqueiros da ZL. Igualzinho. A única diferença é que são filhinhos de papai metidinhos a moderninhos, vestindo calças xadrez de algodão e óculos de acetato. Riram antes de entrar no cinema, riram antes de começar o filme e riram logo que o filme acabou. AO MENOS não riram durante o filme, porque eu ia lá socar a cara se isso tivesse acontecido.

Bom... agora posso falar do filme, eu precisava desabafar essas coisas que meus olhos não conseguem deixar de ver.

O filme é uma obra-prima. Simplesmente isso. Quem puder, vá conferir. A experiência da sala de cinema, escura, ainda acentua mais o soco no estômago, da maneira mais delicada e paradoxal que possa ser.

Eu tive poucas reações ao término do filme. E ao contrário daqueles adolescentes ridículos que saíram rindo, eu estava estupefata ao final do filme. Esperei acenderem a luz, a sala esvaziar para poder sair. Tinha tido reações parecidas com Eternal sunshine of the spotless mind, Mulholland dr. e Requiem for a dream. Mas foi engraçado: eu me levantei, olhei pra trás e cerca de 10 pessoas estavam com o mesmo olhar que o meu. A moça logo atrás de mim (eu nem reparei que ela esteve lá o filme todo, olha que bênção de companhia de cinema!) me olhou com os olhos assustados como que dizendo: "Que porrada de soco! Que filme!". E eu apenas olhei de volta querendo dizer a mesma coisa.

Este filme é delicado, com suas luzes, com sua escuridão, com o paralelismo da psicologia, com a depressão, com a música clássica na abertura e no fim, da maneira como devemos lutar com os nossos demoninhos. E as bolotas de carvalho num som hipnótico e aterrorizante. Em muitas passagens, me lembra com gosto o que mais aprecio em David Lynch: a forma natural com que ele coloca lado a lado: o estranho e o usual.

Não dá pra falar muito do filme, porque estraga. Mas ele é nota 10, como poucos. E vale tudo, incluindo aguentar falsos intelectuais e adolescentes moderninhos.