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Visitando o passado - II

Passado é quase nostalgia. Passado, nostalgia... são quase melancolia.

Essas palavras devem ser incomuns ao dicionário pessoal de muita gente por aí. Perda de tempo, para muitos. Insensato e sem razão, para tantos outros.

A verdade é que desde que me conheço por gente, tenho esses sentimentos dentro de mim. Posso ser intrépida sob o olhar de muitas pessoas -- e sei, também, aonde jaz a minha coragem -- mas não escondo nem nunca quis esconder a importância que dou para o tempo ido.

Nesse lugar, estão os sabores mais doces e também os mais amargos. Estão as lembranças que nunca esquecerei -- tanto as boas como as ruins. Estão os desejos mais ardentes que quis realizar -- e realizei. E estão, também, algumas decepções. 

Como disse no meu post anterior, Visitando o passado - I, quer você queira ou não, somos o resultado de tudo que vivemos até hoje. Somos resultado de nossas escolhas, erradas ou certas -- nem nós mesmos sabemos ao certo julgar, pois, creio, que tudo que se vive é válido sob qualquer ponto de vista. 

Eu gosto de me olhar e ver no que me tornei. As escolhas que fiz, as que não fiz. As pessoas que conheci e todas aquelas que se foram...

Certamente, hoje, eu gostaria de ter agora na minha vida algumas pessoas que se foram para valer. Mas o que eu fui na época era tudo o que eu podia ser. E daí que hoje eu faria diferente? O que importa é o mesmo que disse no meu post anterior: precisamos viver o momento presente com a máxima intensidade possível! Para não pensar no "e, se, talvez..". De tudo que eu jamais me arrependerei é a intensidade com que vivi toda a minha vida. Como sempre digo, peco pelo excesso e nunca pela falta.

O interessante é refletir que "muita falta" também é um tipo de excesso...

Visitando o passado - I

Hoje em dia, com certa razão - mas não total - é muito defendido que as pessoas vivam o presente! O momento de agora, o hoje. Não anseie o amanhã e não se prenda ao passado, porque ambos são tempos que não existem.

O que também não deixa de ser um certo paradoxo, porque o texto que eu acabei de escrever já é passado, o que estou pensando já deixou de ser futuro, se tornou presente e virando passado. Em fração de segundos.

O tempo sempre foi uma matéria lisa, impalpável e, simultaneamente, bússola da vida de cada um de nós. Não vou filosofar a respeito porque não tenho gabarito suficiente para isso, não me atreveria. Escrevo minhas impressões, observações -- como sempre, baseadas em minhas experiências pessoais.

Eu sou uma pessoa que cultiva muito o passado, admito. Não nego. Para mim, essa coisa de desapego de futuro e passado é quase um passo extremista em falso, óbvio. Não conseguimos viver sem um planejamento mínimo e tudo que somos é resultado de tudo que vivemos até hoje - coisas boas e ruins. Do mesmo radicalismo que se combate ao dizer que devemos viver o presente, se baseia o argumento de que passado e futuro são ruins. 

Oras, tudo em excesso é ruim. Tudo que é extremista, idem. Eu creio, para mim, que esta é a melhor lição que tenho aprendido nesta vida: caminhar no meio termo. E isso não significa que serei uma indecisa. O caminho do termo só existe porque existe uma ponta em cada lado. É ingênuo acreditar, também, que estaremos sempre no meio. Um momento estaremos em um lado, outrora em outro. E isso também constitui o meio!

Contudo, sei que muitas pessoas vivem o extremo de apenas se apegarem ao passado, ou apenas vislumbrando o futuro, deixando totalmente de curtir o momento presente. Para mim, o que poderia ser mais esclarecido como "momento presente" é a variável indefinida de que qualquer coisa pode acontecer e você não vai ter controle absoluto nenhum sobre isso! Ninguém pode prever uma surpresa em sua vida, positiva ou negativa. 

Então, eu acredito que o mote deveria ser: quer ser um "passadista", que seja! Quer ser um "futurista", viva isso. Mas não deixe de observar. O que falta nas pessoas - e isso eu defendo firmemente - é que somos tão bombardeados com informações que deixamos de observar os detalhes. A vida é feita nos detalhes que passam despercebido. Claro, nem todos tem essa capacidade naturalmente desenvolvida, conheço gente distraída para tudo! rs - mas como qualquer habilidade, ela pode e deveria ser aprendida. 

Observar os detalhes de cada momento que você vive poderá trazer muito mais cores, opções, experiências, sensações. Tente isso.

Batendo à porta dos 40

(In)felizmente, este blogue sempre abrigou todas as palavras do meu coração: tristes, alegres, reflexivas, finais, decisivas... cada palavra dita e digitada sempre foi (e sempre será) reflexo puro do meu ser humano - espiritual e físico.

Este ano completarei 40 anos de idade. Não estarei mais na casa do trinta e poucos, agora será dos "-enta" em diante. Eu gosto de marcos. Aprecio datas decisivas. Elas têm o sabor de efemérides pessoais, algo que a maioria não leva muito a sério. 

As primeiras reflexões que me vêm à cabeça pensando nesses 40 quase chegando dizem respeito às convicções que sempre tive e que sempre defendi veementemente. Não é clichê afirmar que pouco resta daquilo tudo que sempre acreditei. Precisamos nos pautar e nos orientar sempre a partir de alguma crença, mas como acreditar numa crença mesmo sabendo de sua fragilidade e que ela pode cair a qualquer momento? Você, ainda assim, acreditaria nela?

Eu ainda tenho minhas crenças e convicções, isso não mudou. O que mudou foi a maneira como eu lido com elas. Aprendi deixar ir, quando algo ou alguém precisa ir. Parece fácil, mas não é. Temos nossos apegos, nossas carências e a sensação de vazio e casa sem estrutura quando algo (ou alguém) que sempre pareceu certo em nossa vida, de repente (mas nem tão repentinamente assim) se vai. E foi. Para nunca mais voltar.

Aprendi também a lidar sozinha com minha saudade de tudo que se foi. Pois se foi, não mais voltará. Restam as lembranças boas de um momento único que nunca mais voltará. É aquele momento ido, específico, daquele dia, daquele ano... que não voltarão mais. Você pode desejar ardentemente reconstruir aquele instante, mas ele não existirá mais além de suas lembranças.

Aprendi também a não insistir onde não há fio de resistência. As coisas e as pessoas não são descartáveis mas quando vivemos num mundo onde tudo é descartável, ser acumulador é um risco desnecessário e o preço a ser pago muito ser alto para viver entre a sanidade e a loucura. Então. eu digo, 'live and let live'.

E a gente segue aprendendo a viver a vida sem os parâmetros e clichês da sociedade, em sua maioria, capitalistas e católico-cristão: casar, ter filhos, ter casa, comprar carro, tirar férias uma vez por ano, discutir os detalhes minimalistas de viver a vida da família doriana. Ninguém nos diz que devemos falar menos e agir mais, desenvolver empatia, sermos mais humanizados, diminuir a diferença preconceituosa que existe em cada um de nós, valorizar mais o espiritual e menos o material.

Mas continuamos nosso foco nas aparências: ter uma boa aparência asseada é importante mas... já faz um bom tempo que a casca não me importa mais (exceto uma boa casca crocante de pão fresco). Como não somos cebolas ou pães, chegamos ao último ponto de reflexão: estou aprendendo a conviver com tudo que sempre esteve ao meu redor, fazendo as mudanças necessárias (mais internas do que externas) e compreendendo que o mundo anda sombrio e só cabe a mim mesma as minhas escolhas e as consequências delas.

Até breve!