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Lembrança de um sonho (que não lembro se tive)

"now it's a dream's memoir"

Uma frase que veio solta, assim, na minha mente. Como fragmentos de um poema que não escrevi e não escreverei. E sua poesia insiste em ser agridoce.

Se eu dissesse tudo que tenho vontade de dizer, eu não teria ouvidos para me escutar. Se a minha verdade regesse a minha própria verdade, eu não teria mais verdades a buscar.

Se os meus desejos se tornassem realidade, não quer dizer que eu ainda me sentiria sedenta por algo mais. Se o meu fogo se extinguisse, a quem poderia pedir para reacendê-lo?

Se a necessidade fosse apenas o suficiente, se as palavras fossem suficiente, se a conspiração ajeitasse tudo. Talvez, ainda assim, eu me sentiria confusa.

"now it's a dream's memoir"

Eu penso nas interconexões misteriosas da vida como quem está diante de um quebra-cabeças. Ou a ler um manual de instruções. Ou um jogo de RPG. Tudo tem o mesmo peso e sentido, mesmo que absurdo.

Meu absurdo é sempre acreditar no invisível e me lançar a ele sem medo, sem amarras. Quantas vezes eu fui ao céu e quantas vezes eu caí no abismo. Os polos do mesmo. Os meus extremos internos.

Eu não sou apenas palavras, mas também sou elas. Não sou apenas sentimentos, mas me transporto neles. Sou desejo, um vulcão, uma brisa, o vácuo e o silêncio.

"now it's a dream's memoir"

Não sei se os sonhos tornam-se realidade, se um sonho não é um objetivo egoísta. Mas estou eu diante de minha própria vida pensando nos sonhos, outra vez. A folha em branco assusta um pouco mas é nela que me deitarei, atirarei, verterei até escapar outra vez, um passo fora de mim mesma, minha própria realidade, viva outra vez.

O ontem, o hoje e o amanhã

O tempo é um cavalo selvagem, indomável e inatingível na minha vida. O momento, um filho gêmeo parido de um eco, é outro ser vivo que corre ao meu redor como uma criança rebelde pedindo atenção. As nuances dos segundos são cores vibrantes que apenas meus olhos podem tocar. Não sou nada além de uma mera espectadora de tudo esse tempo que se prostra diante de mim, impetuoso, irritadiço, pungente e paradoxal.

O sofrimento é uma cor primária que se desdobra em secundárias, terciárias... até formar cores imperceptíveis. Mas sabemos de onde ela surgiu. Não podemos desfazer a mistura que, como lágrima e chuva, é tudo mas ainda é apenas água. O sofrimento é uma água congelada que punge mais dor que uma pedra fria. Porque fora água e ainda é apenas água. O sofrimento cega os olhos da alma, da mente e do coração. Pensam que o sofrimento é um meio. Na verdade, ele é apenas um acessório dispensável. Um enfeite de mal-gosto.

A alegria é um desejo perigoso. A alegria existe em seu coração e transborda de suas mãos como água de uma cachoeira. Mas é intenso e é revolto. Mesmo sem saber sua origem, é um bálsamo que poucas pessoas aprenderam a manipular. Pois somos treinados a viver sob tristeza para compensá-la com tanto materialismo que acabamos nos esquecendo de quem sempre fomos apenas para ficarmos socialmente parecidos uns com os outros.

O desejo é um desejo. A vontade é uma vontade. A mágica sempre será mágica. As verdades apenas são verdadeiros para o seu portador. A necessidade de outro é um eterno mistério que palavra nenhuma decifra. O amor... não conhecemos o verdadeiro amor, mas estamos acostumados a um amor egoísta que não dá sem esperar nada de volta. Ele precisa ter algo de volta. O egoísmo é um sinônimo de felicidade em algumas vezes. A perfeição? Essa nunca existiu nem nunca existirá.

Acho que conheço bastante de tudo aquilo que passou por mim. Acho que estou sobrevivendo bem ao hoje. O amanhã? O amanhã  não é um quadro em branco, não é uma folha que a gente sabe que vai cair, não é a continuação do hoje. O amanhã é o meu sonho que sonhei sem ter sonhado. Um misto de verdade e mentira, realidade e ficção que estas mãos e este coração tentam desvendar. Vou sorrir enquanto o presente ainda é eterno presente.

A rapidez de um segundo

Qual o real sentido da palavra "intensidade"?

Qual a velocidade de mudança de um segundo?

Ainda no compasso dessas transformações tão inexoráveis que vêm ocorrendo na minha vida, eu tenho escolhido a minha capacidade de imaginação para me transportar de volta às minhas próprias lembranças. Talvez, elas não sejam como realmente aconteceram... E,com certeza, eu estarei perdendo os detalhes seletivos da memória... mas que importa? A alegria e a doçura serão ainda mais saborosas.

Eu sinto falta das texturas do tempo. Sinto falta da poesia que se desalojou de mim. Me imbuí de tanta racionalidade capricorniana e caminhei no extremo de uma extremidade de mim mesma... que me perdi na racionalidade que nunca foi minha, mas emprestada.

Me perdi e me achei nessa senda. Me escondi atrás da minha água congelada. Mas, essa mesma água que vive em mim, está me trazendo de volta à vida. Não sou perdedora nem vencedora... apenas uma eterna lutadora.

Qual a pergunta que nunca me fizeram? Aquilo que sou. No mesmo instante dos ventos incontroláveis, a calmaria. No mesmo instante da tempestade, um vulcão em brasa. Os paradoxos, os extremos opostos, o agridoce nos lábios. Aquilo que tudo que eu sempre serei: um pouco além daquilo imaginado. Um pouco menos do que deveria ser. Aquela que sempre fui e serei.

Braços abertos para a vida...

Será a vida acontecendo como deve acontecer?

Estou eu conectada com esse mistério chamado vida? Estarei eu ouvindo seus recados silenciosos e fazendo o que precisa ser feito?

Eu andei parando e pensando... e mesmo no meio da tempestade de poeira invadindo o deserto momentâneo da minha vida, eu sempre estive acompanhada daquela presença misteriosa. Uma certeza que nunca faltou na minha vida. Um sensação de conforto que sempre me fez continuar caminhando adiante mesmo sem ter ideia para onde ir, o que fazer, o que dizer, o que programar. Essas coisas racionais e frias (da terra) que nunca foram o meu forte.

Mas a falta aparente de "racionalidade" traz benefícios para a sensibilidade bem aguçada, bem trabalhada. Agora eu sinto uma liberdade nunca antes sentida. Agora eu estou diante da minha estrada, reta, infinita... e o meu destino? O meu destino é apenas comigo mesma. Com tudo aquilo que ainda nem sonhei mas quero que aconteça. O meu objetivo é ainda me tornar mais a pessoa que eu sempre fui e ainda não conheço. O meu foco é apenas ouvir o meu santuário interno... estar conectada comigo mesma cada vez mais.

Eu não sei do futuro. Não sei. No entanto, eu sei o que eu quero para mim. Sinto cada vez mais a união de todos os meus eus... sempre tão espalhados em cada pessoa que magoei, aquelas que decepcionei, aquelas que deveria ter tratado de uma outra forma. Aquelas que deveria ter dito outras palavras. Aquelas que simplesmente se foram e não voltarão mais.

Se há um privilégio na vida de um ser humano, devo dizer que nos últimos três anos da minha vida (talvez até mais, se pensar...) eu fui uma das mais privilegiadas. Eu vi tantas coisas acontecerem diante dos meus olhos. Eu vivi tantas e tantas situações. E diante de todas elas, uma escolha. E para todas elas, um caminho. Ao fim de todas elas, apenas um objetivo. Quando você se propõe a conhecer todas as verdades da vida, você pode se cegar, ou enloquecer, fugir ou simplesmente não aceitar. Quando você tem acesso à mais profunda consciência de si mesmo, o que você espera encontrar?

Apenas sei, agora, que estou aqui... de braços abertos para a vida. Quero viver, quero sonhar, quero aprender, quero ser... tudo novo de novo, como se fosse a primeira vez! Com o coração cheio de alegria, esperança e amor pela vida. Como deve ser... e você? Aceita caminhar comigo?