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Você quer recordar o que podia ter sido ou viver o que pode ser vivido?

80 dias é um filme que passou na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, no ano passado. E está passando novamente na Mostra Mix deste ano. Achei correndo, sem querer, na programação, li a sinopse e me encantei na hora. Vai passar mais algumas vezes ainda (a Mostra Mix vai até o dia 20/11) e quem quiser, vale muito a pena conferir.

Achei este site português cujo título da resenha dá título a este post: 80 dias é uma oportunidade para recordar o que podia ter sido. Entrou como faca quente no meu coração. E do que fala o filme? Trata de duas mulheres de 70 anos, que se reencontram depois de 50 anos, e percebem que mesmo depois de todo o tempo... há ainda algo entre elas.

Confesso que esperava um algo mais do roteiro, da direção... não sei bem dizer. O filme é cativante, mas ele meio que quaaase escorrega para uma narração pedante, sem brilho. Talvez falte uma certa objetividade no olhar do diretor. A câmera parece tremer bem como a história que é contada. Mas, apesar disso tudo, a beleza da história de Axun e Maite é linda.

Eu fui preparada para me emocionar e para chorar. E me emocionei e chorei. Estamos falando de duas mulheres de outro tempo, outra cultura, outra sociedade. A personagem de Axun traz aquela similaridade de muitas mulheres que têm o desejo pulsando mas o reprimem como se nada estivesse acontecendo. Apenas ao final, ela chora compulsivamente, em silêncio, sem dizer nada. E aquelas lágrimas são da despedida. Porque mesmo aos 70 anos, ela ainda precisa se despedir da promessa de viver um amor lésbico pleno.

Gostei muito de ver a terceira idade lésbica retratada, algo tão raro no cinema. Porque cansa sempre os mesmos rostinhos certinhos, plastificados, bonitinhos, forçando intimidade, sendo posers. Faz parte, mas confesso que me cansa. Ou então, os filmes lésbicos são sempre dramáticos, com fim trágico. Ou semi-eróticos muito mais para marmanjo se acabar do que para ser uma obra da sétima arte. O encanto de 80 dias está em esmiuçar o tempo que se passa por uma medida totalmente distante da que estamos acostumados.

E como todo bom filme precisa fazer, ficou a questão pairando: às vezes (como com Axun) você precisa esperar mais de 50 anos para ser quem você sempre soube que era. "Eu sei quem sou quando estou ao seu lado... (diz ela para Maite)". Mas, agora, não precisamos viver romances internéticos meteóricos que começam com uma teclada e terminam com um skype.  Tudo está mais descartável? Sim!!! Porém, a tentativa sempre será válida... para os puros e corajosos de coração. E volto ao título do blogue!


Não significa nada

Agora, ao meio-dia, caminhei pelas ruas da região onde trabalho. Nada demais. Dia quente, sem sol, mas abafado, um prenúncio qualquer de chuva. O mesmo cenário.

No entanto, meus olhos estavam vendo as coisas diferentes e eu gosto muito quando tenho esses momentos. Momentos de olhar o cenário diante de seus olhos como um quebra-cabeça, pronto, que tinha 5 mil peças um tempo atrás. Tudo encaixado, mesmo sem fazer sentido. A sombra da árvore que parece uma dádiva divina. O sol, mesmo quente, que parece um bálsamo. As pessoas, mesmo mal-educadas. Cada uma na sua loucura, com seu problemas... ainda são seres humanos.

Esses momentos de compreensão pura e sentimento de plenitude são tão raros... porque é como se você fosse banhado por uma intensa luz dourada que fizesse você enxergar que a despeito de toda a maldade e loucura do mundo, ainda somos iguais. Ainda estamos perdidos, cada qual tentando encontrar o seu próprio caminho. Eu queria ter abraçado cada um que passou por mim. Eu mentalizei coisas positivas para todas as pessoas que passaram por mim. Não significa nada... mas era aquilo que eu queria fazer naquela hora. E esse meu amor não podia ser roubado nem julgado por ninguém.

Espero que todos tenham os próximos dias com um pouco desse sentimento que senti hoje. E que a gente possa melhorar uma milimétrica gota que seja. Parece que não significa nada... mas é muito!

[trilha de sonora de hoje, banda indicada pela querida Gabitchs, a quem sempre agradeço]

Os verdadeiros sentimentos

Hoje tive acesso a uma imensa torrente de sentimentos novos. E no meio de tanta coisa sublime, bela e pura, pensei no meu dia a dia. E, confesso, que tive muita vergonha das coisas que senti e que acabavam me entristecendo. Estamos presos a um círculo vicioso de ilusão de ganho e perda, de regojizo e desdém que nos deixa simplesmente cegos para a percepção das coisas mais simples.

Percebi que as perdas imensas que tive este ano, na verdade, foram ganhos. As pessoas que se foram, se foram porque era hora de ir, porque o adeus não é sinônimo de derrota, mas, sim, de um delicado equilíbrio que nem sempre é possível de ser compreendido na hora. Às vezes, perder é ganhar.

Percebi que há ainda algumas pessoas que eu não sei o que estão exatamente fazendo na minha vida. E eu percebi que não posso determinar quem fica e quem vai, eu simplesmente não tenho esse poder, mesmo em se tratando de minha vida. Eu percebi que -- nunca em toda a minha vida -- eu tenho escutado "não" de determinadas pessoas. E eu percebi que a vida -- pulsante, rica, pura, viva -- me diz "sim" o tempo todo! Me agracia o tempo todo com dádivas, algumas imperceptíveis, outras gigantes... me dizendo sim, sim, sim, o tempo todo! E aí, queridos leitores, eu me pergunto: a quem devo ouvir? Aos nãos dos seres humanos ou ao sim da vida?

A escolha parece fácil e óbvia, mas já caí nessa cilada várias vezes. Não há escolha a ser feita, nesse caso. Porque eu hoje eu percebi que -- de fato -- as coisas apenas acontecem com quem está preparado para vivê-las. E, se eu vivi tudo o que eu vivi este ano (e, de certa forma, ainda estou vivendo) é porque sou capaz de enfrentar cada um desses desafios com maturidade, transparência, coragem, esperança, sabedoria.

Pois não é fácil viver... não é facil encarar o caos diário. E é mais difícil ainda se estivermos acompanhados de solidão, desconfiança e tristeza. No entanto, HOJE eu descobri que por mais que esteja fisicamente sós, nunca estamos solitários de verdade.  E aquelas pessoas que mais te dizem "não" são as que mais esperam aceitação. Dizer "não" para outrem é uma forma de suposto poder e controle de si mesmas que estão longe de ter.

E a vida que apenas diz "sim" para mim... eu apenas a abraço sem medo nenhum de aceitar o que tiver por vir. Quero viver! Quero aprender! Não quero NUNCA ter medo de ser quem eu sou. Não quero NUNCA me arrepender das coisas que fiz porque acreditei que eram as coisas que deveriam ser feitas naquele momento. Não quero NUNCA ter medo de tentar. Não quero NUNCA dizer que nunca tentei. Eu digo sim para a vida que me diz sim o tempo todo!